Os brasileiros estão lendo cada vez menos. Esta realidade aparece em pesquisas como o Retrato da Leitura no Brasil (Instituto Pró-Livro, 3ª. Ed. 2012), que aponta para uma considerável redução no número de leitores, mesmo entre aqueles que leem por dever escolar. De acordo com o levantamento, a média de livros lidos anualmente por crianças (5-10 anos) caiu de 6,9 para 5,4 nos últimos cinco anos. Já entre os adolescentes (11-13 anos) a redução foi de 8,5 para 6,9.
Atenta a este cenário, a rede municipal de educação de Senador Canedo, região metropolitana de Goiânia, capital de Goiás, está implementando uma tecnologia social que pretende contribuir de maneira criativa para a mudança desse quadro. Através do projeto “E se eu fosse o autor?”, desenvolvido pela ong Casa da Árvore e o patrocínio da Petrobras, alunos e professores estão se relacionando de uma maneira diferente com a literatura.
O projeto aposta na cultura digital como uma maneira de recriar a relação de crianças e adolescentes com a leitura. Para isso deu início a uma série de atividades gratuitas que vai desde laboratórios de leitura e produção multimídia (e-books e vídeos) até a formação continuada para professores. “Tentamos trazer todo o potencial de autoria e de difusão de conteúdos das mídias digitais para as práticas de leitura”, destaca o coordenador geral do projeto, Aluísio Cavalcante.
Na prática, durante os próximos dois anos, a Biblioteca Municipal Arlete Tenório de Castro contará com um Laboratório Criativo de Leitura e Tecnologia (Lab Criativo), que receberá a cada semestre, alunos das séries finais do ensino fundamental de duas escolas, selecionadas pela própria Secretaria Municipal de Educação. Para atender a comunidades mais distantes, o projeto está levando o Lab Criativo para dentro de escolas de bairros como o Jardim das Oliveiras. No mesmo espaço serão realizadas as Oficinas de Práticas Pedagógicas Inovadoras, uma estratégia do projeto para capacitar professores da rede municipal para desenvolvimento de aulas criativas com uso de novas tecnologias.
“Nossa expectativa é que nestes dois anos consigamos ampliar a iniciativa proposta pela ong Casa da Árvore e levar o projeto E se eu fosse o autor? para toda a rede municipal, ressalta a secretária municipal de educação, Edvânia Braz Teixeira. Durante o biênio 2014-2015 o projeto deverá atender a quase 600 alunos no município de Senador Canedo.No próximo dia 15 de abril, será realizado o lançamento oficial do projeto na Biblioteca Municipal Arlete Tenório de Castro, em Senador Canedo, às 9h.
Práticas inovadoras
Durante os encontros no Laboratório Criativo de Leitura e Tecnologia, a jornada de aprendizagem começa com dinâmicas de mediação de leitura. “Optamos por livros que desafiam os alunos e que ao mesmo tempo estimule-os a compartilharem sua vivência cultural”, destacou Leila Dias, presidente da ong Casa da Árvore. Após a leitura as turmas são desafiadas a recriarem a obra tendo a produção de vídeos, livros digitais e outras linguagens midiáticas, como processo motivador.
Já nos primeiros dias da iniciativa, a coordenadora pedagógica da Escola Municipal Maria José Cândido, Charlene Freire, ficou surpresa com o envolvimento de alunos durante os processos de criação de novelas gráficas, “Alguns desses alunos que já se destacaram nessa primeira oficina, são alunos que possuem dificuldades de aprendizagem e que agora estão encontrando uma nova forma de aprender a gostar de ler”.
A coordenadora pedagógica do projeto, Danielle do Carmo, destaca que a autoria colaborativa, a interação e o livre compartilhamento são características da cultura digital que são incorporadas às práticas de leitura proposta pelo E se eu fosse o autor?, “nós buscamos proporcionar um espaço de aprendizagem em que o aluno sinta-se à vontade para criar, para formar e defender sua opinião, sua visão de mundo, seja dentro ou fora da escola”.
Associação Casa da Árvore – Cultura Digital e Aprendizagem Criativa
A Casa da Árvore é uma associação que desenvolve ações socioeducativas no contexto da cultura digital, orientadas para a promoção da cidadania. Atuando desde 2007 em ambientes formais e não formais de educação, desenvolvemos práticas inovadoras de aprendizagem a partir do uso criativo de tecnologias digitais, sobretudo as tecnologias de mobilidade.
Através de parcerias com instituições públicas e privadas e do diálogo com movimentos sociais, a Casa da Árvore vem estimulando o desenvolvimento e a inovação e tecnologia social em todas as regiões do Brasil. Com a dedicação de educadores, artistas, desenvolvedores e parceiros buscamos compreender as novas dimensões da participação social e da expressão cultural e sua relação com a cultura digital.
A entidade possui inúmeras iniciativas premiadas nacionalmente como o Telinha de Cinema, 1° núcleo comunitário de formação e incentivo a produção audiovisual especializados em mídias móveis do Brasil, e reconhecidas como tecnologia social. O projeto “E se eu fosse o autor?” foi desenvolvido e realizado pela primeira vez em Palmas-TO (2010-2011), período em que foi reconhecido como Tecnologia Social pela Fundação Banco do Brasil e Unesco.
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