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Jovens criam revista para falar sobre literatura e cultura digital

Adolescentes se unindo em torno de duas paixões em comum. A primeira, a leitura, hábito que muita gente acredita não fazer parte dessa faixa etária. A segunda, a tecnologia, essa sim reconhecida como parte inseparável de uma geração que já nasceu em um mundo digital. Da junção dos dois interesses nasceu a revista eletrônica Página 9 3/4, iniciativa desenvolvida no projeto BiblioArte LAB, um laboratório comunitário de inovação em leitura e formação de leitores realizado pela ONG Casa da Árvore em Poços de Caldas (MG).



Durante a semana, garotos e garotas entre 12 e 18 anos, em sua maioria estudantes da rede pública de ensino, reúnem-se após a escola na Biblioteca Municipal Centenário, onde funciona a sede do projeto, para a elaboração dos conteúdos que alimentam o site www.pagina934.art.br e as redes sociais da revista, incluindo textos, vídeos e memes. Mas antes de entender como funciona esse projeto social, vamos saber um pouco sobre como ele foi criado.


Da ideia à criação da revista


A revista é um dos primeiros empreendimentos criativos desenvolvido no BiblioArteLAB, criada como estratégia para ampliar a capacidade dos adolescentes participantes atuarem como influenciadores de leitura nas suas comunidades. A escolha das redes sociais e outros meios digitais para viabilizar a publicação foi uma decisão dos próprios jovens. “Depois de uma imersão no universo de leitura desses meninos e meninas, descobrimos que é por estas telas e conexões que eles vão construindo suas principais experiências culturais, especialmente de leitura”, detalhou Leila Dias, coordenadora de narrativas hipermídias da Cada da Árvore. Leila destacou ainda que “promover uma leitura crítica das mídias digitais é uma condição fundamental para formar leitores do século XXI”.


Na primeira reunião com o grupo de jovens foi lançada a provocação: como nossas próprias experiências literárias podem contribuir com a formação de novos leitores? “Precisamos falar mais sobre as coisas legais que cada um aqui lê”, comentou Daniel Paulino. Em seguida vieram as primeiras ideias, “tem que rolar uns vídeos”, “gif todo mundo vê no Facebook”, destacaram respectivamente Iago e Bia. A questão levantada foi que não existe no Brasil um canal de comunicação dedicado a literatura feito por jovens e para jovens. As publicações encontradas são sempre desenvolvidas por adultos, pesquisadores ou críticos, que traziam questões relacionadas à função didática da leitura e quase nada sobre as dimensões sociais da literatura para os jovens. “Precisamos fazer do nosso jeito”, concluiu Alice.


Em um exercício de pesquisa sobre modelos de negócios criativos de leitura na internet o grupo chegou a ideia de criar uma revista eletrônica, um projeto que permitiria que todos se expressassem e, ao mesmo tempo, desenvolvessem vocações e talentos em áreas pretendidas, como audiovisual, design, escrita e outros. Assim foram criadas “a galera dos vídeos, a galera da escrita criativa, a galera da arte e a galera dos gifs”, como a Gabriela gosta de definir a turma. Para orientar o trabalho de cada grupo a ONG realizou uma chamada para facilitadores voluntários, constituindo assim uma equipe profissional de apoio.


Como funciona a revista


As decisões são em grupo, em reunião semanal de pauta, que define os assuntos de cada edição. “Nossos vídeos falam de livros que já lemos e vamos intercalando momentos de produção com estudos sobre edição e linguagens”, comenta a booktuber Nic Oliveira, que é autora de uma playlist #FanFiquei. O mesmo acontece com a equipe da Escrita Criativa, que optou por produzir colaborativamente, mudaram e vem encontrando novas formas de produzir superando as dificuldades de cada um.


Cada grupo conta com a facilitação de um profissional. Eles identificam potenciais de aprendizagem do processo, estimulam a criatividade e o desenvolvimento de habilidades. A equipe de Arte & Design é responsável por ilustrar textos e produzir conteúdos de apoio para as redes sociais e divulgação.


Além da produção de conteúdos e a gestão dos canais online, o grupo também é responsável pela realização de ações comunitárias como o Papo Literário e o BookGame. O primeiro trata-se de uma série de debates realizados em bibliotecas escolares, onde os autores da revista promovem uma discussão com alunos e professores a partir de um tema abordado na revista, como FanFic, Booktuber, Slan e Literatura Periférica, Profissão Blogueira, etc. Já o Bookgame é um jogo de tabuleiro desenvolvido pela equipe da revista onde os participantes testam seus conhecimentos sobre livros, séries, mangás e filmes.

Com estas ações a revista consegue se promover entre o público jovem da cidade, além de movimentar bibliotecas públicas e escolares com uma programação inovadora.


Histórias de transformação


Gabriel Simão, de 16 anos, um dos que participam da produção dos vídeos, relata como integrar a Página 9 3/4 está fazendo a diferença em sua vida: “De início, não imaginava que fosse ser algo tão profissional e grandioso. De forma prática, estou aprendendo a editar vídeos e a elaborar roteiros, por exemplo. Todos aqui temos um interesse em comum pela literatura e queremos mostrar isso para o mundo. Sinto que estou fazendo parte de algo que as pessoas fora daqui estão percebendo e dando valor, algo que eu gostaria de ler e ver também”.

Assim como ocorre com Gabriel, a vida de vários outros jovens de Poços de Caldas está sendo transformada pela experiência, que mistura interatividade e empoderamento. Nesse espaço de produção conjunta, os participantes dividem-se em grupos de escrita criativa, design visual e booktubers (como são chamados os internautas que produzem vídeos de temática literária no Youtube).


Não é segredo para ninguém que, hoje em dia, os adolescentes estão conectados à internet 100% do tempo, praticamente. O que muita gente encara como problema, nesse caso é enxergado como solução: smartphones, tablets, notebooks e outros dispositivos são considerados ferramentas valiosas, tanto para o acesso à literatura quanto para o compartilhamento com outros do conhecimento produzido, ainda mais com o potencial de comunicação das redes sociais.


“Estou no celular sempre que tenho tempo livre. A tecnologia hoje em dia é um meio de comunicação, então se tornou impossível para os jovens de hoje viver sem ela. A internet torna as coisas mais acessíveis, inclusive os textos e vídeos que a gente produz. Os jovens de hoje estão conectados e assim fica mais fácil chegar até eles, falando na linguagem que gostamos”, explica Alice Felizardo, 13 anos, que integra a equipe de escrita criativa da Página 9 3/4.Os textos da Página 9 3/4 são provocativos e reflexivos. Os temas escolhidos, por sinal, sempre fazem parte da realidade dos autores.


Somos jovens e não gostamos de ler! Será?, o primeiro de todos, questiona se é real o desinteresse do jovem pela leitura e investiga as possíveis causas. O preconceito com as histórias em quadrinhos, redes sociais voltadas para fãs de literatura e uma lista dos livros favoritos da turma são outros dos assuntos presentes.


Nos vídeos do canal exclusivo para o Youtube, sobra mais espaço para a descontração, uma vez que os recursos de edição conseguem deixar os vídeos mais dinâmicos e leves. São três os booktubers da Página 9 3/4. Iago Vitor Pereira (ou Bolão), fala sobre quadrinhos. Isis Cavalcante traz dicas e resenhas de livros. A temática de Nicolle Oliveira são as fanfics, versões da história de um personagem ou universo feitas pelos próprios leitores e publicadas na web.


Permitir o protagonismo dos jovens é fundamental, como explica Leila Dias, editora-chefe da revista e uma das coordenadoras do BiblioArte LAB: “Os processos de reflexão sobre os assuntos e as abordagens sobre as quais serão tratados na revista Página 9 3/4 servem como itinerário para a construção de uma aprendizagem autônoma, com foco na construção do sujeito”. A editora destaca ainda que “a cada nova edição, os grupos vão descobrindo suas próprias formas de aprender à medida em que vão se deparando com os problemas diários de uma redação de revista. Isso favorece a construção de habilidades cada vez mais exigidas na sociedade contemporânea”.


Além do próprio site/revista eletrônica (www.pagina934.art.br), a Página 9 3/4 conta também com um espaço no Facebook:www.facebook.com/pagina934. O nome da revista é uma referência direta à plataforma de trem 9 3/4, presente na saga Harry Potter, um portal para um mundo de aventuras na ficção e, a partir de agora, também um ponto de partida para jornadas fantásticas na vida real.

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